“Numa guerra não há vencedores, todos somos perdedores”.
Em um movimento que promete agradar a
maioria dos jogadores, a DICE decidiu deixar um pouco de lado os
conflitos contemporâneos e se enveredou pela Primeira Grande Guerra, até
então pouco explorada nos videogames.
Ao invés de contar uma única história, o
estúdio optou por narrar vários pequenos contos. Desde um chofer inglês
que se tornou condutor de blindados, até corajosos australianos que
devem enfrentar Otomanos na sangrenta Batalha dos Dardanelos, o enredo
explora diferentes “Histórias de Guerra”.
As narrativas são bem interessantes e
tentam explicar que cada soldado encarou a guerra à sua própria maneira.
Muitos simplesmente enlouqueciam nas trincheiras, já outros entravam no
conflito somente pelas glórias (medalhas), existiam aqueles que lutavam
pela família e entes queridos e por fim, os que foram forçados, por
meio de uma convocação.
Ao todo são seis micro-campanhas. Cada um conta uma história diferente.
O estúdio acerta ao oferecer
distintas experiências. Ao contrário da maioria dos jogos de FPS, onde
controla-se somente um personagem que exclusivamente atira com armas
portáteis de emprego individual, em BF1 a campanha oportuniza a
utilização de blindados, aviões, obuseiros e metralhadoras. Vivencia-se
uma guerra por completo.
A campanha também passa por diversos
Teatros de Operações. França, Itália, Oriente Médio, etc. Cada um com
suas características singulares.
A tão falada “Guerra de Trincheiras”
também é apresentada e de forma bastante incisiva. Nas extensas linhas
de combate da Frente Oriental, com bombas caindo a todo instante,
soldados correndo de peito aberto para morte, gritos, desespero…está
tudo presente.
Por sinal, o começo da campanha de BF1
nos faz lembrar os áureos tempos da série Medal of Honor, principalmente
do capítulo Frontline, mais precisamente no desembarque do Dia-D.
Mas a escolha de mini-histórias tem seu preço.
Pesa em desfavor da campanha a sua duração. O single-player
é curto e leva de 6h a 8h para ser concluído. Este formato impede que
os jogadores se identifiquem mais profundamente com os protagonistas.
Não cria-se vínculos e uma ou outra morte não causa tanto impacto.
A versão nacional é totalmente
localizada. Entretanto, esperava-se muito mais da dublagem,
principalmente por se tratar de um Battlefield em um conflito que mudou
os rumos do mundo.
O problema fica por conta da entonação
das vozes. Às vezes a missão está em um momento sensacional, com tiros,
explosões, ataques de artilharia, enfim, o mundo está, literalmente,
desabando e os atores falam como se fosse um diálogo normal.
No multiplayer também persiste a
falta de motivação. Quando se está atrás na partida, geralmente uma voz
tenta incentivar o avanço, mas a narradora não coloca tanta emoção no script.
Não chega a ser uma falha igual a
escalação do “cantor” Roger Moreira, quando o artista foi um dos
dubladores de Battlefield: Hardline, mas poderia ser melhor.
Do tripé que sustenta o game, a campanha é o mais frágil deles. Na verdade, o correto seria, o “menos bom”.
A campanha de Battlefield 1 é curta e
pode ser comparada a uma paixão avassaladora – agrega sentimentos que
mexem com nossos sentidos, tira nosso equilíbrio e acaba abruptamente. A
parte boa é que não gera o terrível vazio de um fim de romance. Afinal o
melhor ainda está por vir.
O verdadeiro campo de batalha
Battlefield é o que é em virtude do seu multiplayer. A campanha na verdade serve apenas como aperitivo, um tira gosto.
Neste ponto, toda expertise da DICE
começa a despontar. Aproveitando toda experiência obtida em Battlefield
3, 4 e Star Wars: Battlefront, o estúdio implementa modos consistentes,
divertidos e até muito bem balanceados, algo surpreendente. Geralmente, o
equilíbrio só era atingido após algumas semanas.
O estúdio é inteligente o suficiente para saber que não poderia usar exatamente a mesma fórmula empregada em Battlefield 4. Afinal, são contextos díspares.
Mas, as mudanças não foram bruscas. A
essência do game continua a mesma. As adições e ajustes serviram como um
refinamento da receita de sucesso, como nas classes.
Em BF1 temos: Assalto, Suporte, Médico e
Batedor. Não existe mais a classe de Engenheiro, esta foi diluída entre
todas as anteriores. Caberá aos médicos reparar veículos, já a Assalto
conta com os recursos ofensivos para destruir os blindados e por fim, o
Suporte ficou com o encargo de distribuir munições. Todas elas estão
muito bem balanceadas .
BF1 não conta com a vasta quantidade de
armas presentes no BF4. Neste aspecto, os desenvolvedores optaram por
concentrar esforços na qualidade.
Mas ainda sim elas são bem variadas –
pistolas, rifles, fuzis, metralhadoras, etc – são diversas as opções. E,
como sempre, existem as personalizações: adições de mira, kits e
desbloqueios.
Dessa vez, ao contrário de liberação
automática após a conquista de um determinado número de experiência,
agora os jogadores são premiados com moedas in-game. Com elas, é
possível liberar uma arma-item-recurso, ficando então a decisão de
desbloquear primeiro aquele equipamento que mais agrada.
Outro ponto, são as próprias armas em
si. Elas modificam completamente a jogatina. Enquanto as temáticas mais
modernas contam com ferramentas automáticas, miras telescópicas de longo
alcance, lasers, termais, etc, no jogo mais recente não é assim,
obviamente.
E as armas e jogabilidade ainda
continuam com sua precisão carrancuda, característica marcante da série.
Elas se comportam de maneiras diferentes. Ajustar sensibilidade,
dominar o recuo e conhecer o equipamento ainda são fundamentais para um
bom desempenho.
A robustez provoca a experimentação de
várias delas, até que se encontre ou adapte alguma ao estilo preferido,
sempre levando em consideração: recuo, cadência e dano.
E não somente as armas portáteis, mas as
de emprego coletivo também exigem um pouco de estudo. Cada blindado se
locomove em uma velocidade, controlar um dirigível é substancialmente
diferente de um avião de caça e assim por diante.
Por sinal, ser um Às dos ares não é uma
tarefa trivial. Os exemplares de combate são muito leves e altamente
maleáveis, exigindo treino.
Por fim, existem os cavalos. Estes não
são muito “manobráveis”, muito em virtude da possibilidade de não
acessar todos os locais. São legais no começo, mas acabam ficando de
lado com o tempo.
Neste sentido, os combates são um pouco
mais cadenciados, mas não menos explosivos. Eles apenas foram
apimentados com um pouco mais de estratégia.
Por sinal, os jogadores devem entrar no multiplayer
com intenções claras de ajudar o time. Battlefield 1 é um jogo onde o
trabalho é em prol da equipe, e focar nos objetivos é preponderante. De
nada adianta conquistar um K/D elevado se a equipe adversária
conquistar todos os pontos de interesse.
Claro que “matar” faz parte da diversão, mas são eliminações conscientes.
E existem vários modos onde os jogadores
podem colocar suas habilidades à prova. Os tradicionais Conquista, Cada
Equipe por Si, Dominação e Investida estão lá, brilhando intensamente
com vários mapas (9 no total).
Os destaques ficam por conta da inclusão de dois novos modos: Pombos de Guerra e Operações:
Pombos de Guerra: Duas
equipes competem para capturar e soltar pombos. Os pássaros, após
soltos, levam mensagens para artilharia que, logo em sequência
bombardeia as posições inimigas. Vence o lado que soltar com sucesso
três pombos primeiro.
Operações: Com vários
mapas baseados em batalhas reais, o objetivo é conquistar a vitória por
completo. A grande sacada é que a guerra toma proporções épicas. Na
medida em que os pontos são conquistados, novos objetivos adiante são
colocados. Cada setor conquistado libera outros.
Nesta opção, tem-se mesmo a percepção do
tamanho dos mapas e da magnitude da operação. Você pode começar dentro
das trincheiras, lutando ferozmente pela posição. Conquistando, você
deve prosseguir para os moinhos, avançando posteriormente para um
vilarejo e só então culminar em um colina fortemente protegida.
Tudo é altamente dinâmico. Você pode
iniciar de batedor, neutralizando a defensiva inimiga, evoluindo para
uma classe de suporte, colaborando no reabastecimento do time e utilizar
a classe assalto para os combates mais próximos, no vilarejo. É uma
evolução da batalha.
E o combate pode, literalmente, virar de
acordo com a situação. Sua equipe pode estar na dianteira da luta, mas
uma forte neblina pode tornar tudo mais complicado. Os adversários podem
se valer da mudança climática e subverter seu progresso, retomando os
pontos perdidos.
EA e DICE acertaram ao mudar das guerras
atuais para um conflito mais antigo. Foi um passo seguro na direção que
a grande maioria desejava.
A Guerra como ela é
O último pilar fundamental circunda
entre os outros dois. A ambientação de todo o jogo é algo surpreende.
Mesmo que nós já saibamos do gabarito da DICE como produtora, é
impossível não se impressionar.
O visual do jogo é sua própria carta de recomendação. Battlefield 1 é belíssimo.
O estúdio refinou o trabalho visto em Star Wars: Battlefront e entrega gráficos de ponta, um dos melhores desta oitava geração.
A Frostbite evolui como engine e propicia momentos singulares, principalmente na destruição de cenários, as melhores desde de Battlefield: Bad Company 2.
Basta uma granada explodir por perto
para que uma cratera se abra no lugar, a força brutal dos blindados,
construções são arrasadas durante bombardeios. Quase tudo é passível de
demolição.
Tudo isso orquestrado por uma trilha
sonora que representa a guerra com fidelidade. Tiros zunindo, infantaria
inimiga se aproximando (botas ecoando no chão), aviões cortando o ar,
gritos…tudo contribui.
Inclusive nos detalhes. Dentro de um
blindado por exemplo, você pode usar a metralhadora e ouvir as capsulas
caindo dentro do tanque.
Nos ataques, quando estão todos
entrincheirados, o silêncio mortal é interrompido por apitos que indicam
que é a hora de avançar. Neste momento, a cavalaria surge aos berros,
bombas caem, amigos morrem. Surreal.
E mesmo que os mapas, principalmente na
Conquista e Operações, sejam colossais, você nunca se sente só. É
impressionante como a equipe conseguiu criar algo grande e denso.
Um dos momentos mais impressionantes é
quando surgem nos combates o amedrontador Zeppelin. A estrutura se
destaca no cenário e, quando abatida, vai ao solo compassadamente
destruindo locais e explodindo majestosamente.
Mas, tanta beleza não sai ilesa de problemas. Apesar de muito bonito, o game conta com pop-in e algumas falhas nas animações, mas não são corriqueiras e não interferem na experiência.
Senhor de Reis
A dupla EA-DICE cumpre com as elevadíssimas expectativas e entrega aos jogadores exatamente o que eles querem.
Categorizar Battlefield 1 como um
simples FPS é um ultraje. Estamos diante de um verdadeiro jogo de
guerra, com várias possibilidades de jogabilidade. Quer ser um aviador?
Você pode! Quer controlador um cruzador e bombardear as posições
inimigas? Aqui tem! Quer ser um herói como Vassili Zaitsev? Assuma seu
rifle! Escolha o que você quer ser.
Se a Primeira Guerra Mundial foi
responsável por acabar com vários impérios europeus, Battlefield 1
conquista a coroa de Imperador (senhor de reis) dos jogos guerra.
Com Battlefield 1, a DICE entrega aos jogadores exatamente o que eles
querem: multiplayer imersivo, uma campanha que, apesar de curta,
entretém razoavelmente, visual digno de oitava geração e uma ambientação
fiel aos contextos históricos. A franquia está em sua melhor forma.
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